Branca de Neve e o Caçador, de Rupert Sanders | Resenha COM spoilers

Na adaptação do conto dos Irmãos Grimm, a história se desenrola de forma bem mais detalhada, iniciando antes mesmo da personagem principal nascer.


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            A atriz Kristen Stewart, conhecida no mundo todo por suas atuações na saga Crepúsculo (2008-2012), e o ator Chris Hemsworth, protagonista do filme Thor (2011), dão vida às personagens Branca de Neve e o caçador Eric, respectivamente, protagonizando o filme dirigido pelo diretor Rupert Sanders. Na nova adaptação do conto dos Irmãos Grimm, a história se inicia de forma bem mais detalhada, antes mesmo da personagem principal nascer.


            A mãe de Branca de Neve, uma rainha, faz um desejo para que sua filha nascesse com os lábios tão rubros quanto o sangue, os cabelos negros como as asas de um corvo, a pele tão branca quanto a neve e com a força que uma rosa tem que resiste ao frio do inverno. Após o nascimento da pequena, fica evidente a quão bela ela é, tanto por dentro quanto por fora, e a bondade e pureza que possui em seu coração. Sua mãe falece poucos anos depois, e seu pai, o rei, é tomado pela tristeza que só cessa quando conhece Ravena, uma linda mulher, que fingiu ser uma prisioneira de um grupo misterioso que ameaçava o reino. O rei derrota tal milícia com o seu próprio exército e casa-se com a bela prisioneira. Esta se torna madrasta de Branca e, em sua noite de núpcias, assassina o rei, usurpa o trono e toma o reino para si, matando todos aqueles que se voltam contra ela. Apesar disso, alguns conseguiram fugir, e os que ficaram e sobreviveram passaram a viver miseravelmente, pois o reinado da mais nova rainha trouxe miséria, fome e escassez.

           
            Branca de Neve, que havia sido poupada do massacre, foi encarcerada na prisão da torre mais alta do castelo, a pedido da rainha, prevendo que um sangue real poderia ser de alguma valia no futuro.

            Anos depois, fascinada e obcecada em ser a mais bela de todo o reino, a rainha, ao consultar-se com o seu espelho mágico, descobre que, para ter a beleza e vida eterna, teria que matar aquela cujo sangue é real e sua beleza é maior do que a dela, ou seja, Branca de Neve. Pede então para que seu irmão e servo a leve até ela, para arrancar-lhe o coração e comê-lo. A garota consegue escapar e foge para a floresta negra. A rainha, então, pede que Eric, o caçador, que conhece bem a floresta, traga a fugitiva de volta em troca de algo que ele deseja. O homem aceita, mas, ao encontrá-la, muda de opinião e passa a protegê-la. Juntos, vão de encontro aos outros, que anos atrás conseguiram escapar e se refugiar, e que hoje possuem um pequeno exército, mas não ousam arriscar-se contra a cruel rainha.

            No meio do caminho, os dois encontram oito anões que se juntam a eles e descobrem, através de um ser mágico em um lugar chamado Santuário, que Branca é a escolhida para salvar a tudo e a todos do mal e da escuridão trazidos pelo reinado da rainha. 


        Entretanto, em uma emboscada, um dos anões acaba morrendo e também o irmão de Ravena. Com isso, a própria resolve acabar com tudo pessoalmente. Transformada, graças aos seus poderes, em um velho amigo de infância da jovem princesa, entrega-lhe uma maçã. Ao mordê-la, Branca cai no chão, envenenada, enquanto a rainha revela sua verdadeira face. Antes que pudesse apunhalá-la e devorar seu coração, é interrompida pelo caçador e os anões que estavam ali perto, fugindo em seguida.


            Ao chegar ao tal lugar dos refugiados, Branca de Neve é dada como morta e todos perdem, novamente, a esperança de lutar contra a rainha. O caçador, desesperado por ter perdido, mais uma vez, alguém com quem realmente se importava, a beija na boca, dando um último adeus. Então, enquanto todos discutiam se deveriam ou não lutar contra a rainha e seu exército, ela aparece, e com um discurso encorajador traz esperanças para todos, pedindo que lutem junto com ela. Assim, os refugiados partem para a batalha decisiva de suas vidas.

            Enquanto todos lutam, Branca de Neve, vestida com armadura e empunhando uma espada, vai até o salão no qual está a rainha. As duas duelam entre si e, com um descuido da rainha, a jovem a apunhala com uma adaga que trazia escondida, ferindo mortalmente a assassina do rei e usurpadora do trono. Branca era a escolhida, a única que poderia matá-la, pois só pelo sangue da mais bela a rainha má poderia ser destruída.


            E assim Branca de Neve torna-se a rainha e o reino volta a ser belo e próspero.

            O filme é renovador e traz elementos nunca antes tratados em versões anteriores da obra dos Irmãos Grimm. Ao mesmo tempo em que se renova, reinventa o que já era da história tradicional com uma forma diferente, sem perder a essência do clássico. Traz efeitos visuais bem trabalhados. O ser do espelho mágico, por exemplo, é extremamente renovador e surpreendente, pois ele sai de dentro do objeto e se materializa de uma forma incrível.


            Contudo, o filme se destaca por ser inovador no que se refere ao papel da mulher. A mulher não é mais tratada, representada, de uma forma incapaz, inocente, doce e indefesa, que necessita ser salva e encontrar o homem perfeito para que sua vida tenha um final feliz. Ela simplesmente se levanta e vai à luta junto com todos, batalha pelo que é seu de direito, mostra sua força e o quanto é capaz de enfrentar suas próprias batalhas, com ou sem a ajuda de outros. Esta é a mulher do século XXI.

A protagonista representa as mulheres do nosso século: batalhadora e independente. Diferentemente das histórias clássicas que já conhecemos, esta nova versão retrata basicamente a nova mulher. É um conto, uma história, para os dias atuais.





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Por Iraildo D'Medeiros, professor 
de Literatura e Língua Portuguesa