A batalha entre homens e elfos | The battle among men and elves

Tudo começou quando Häshmiel, líder élfico da província sul do Santuário Dourado, desentendeu-se com os demais por questões de território.
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        Tudo começou quando Häshmiel, líder élfico da província sul do Santuário Dourado, desentendeu-se com os demais por questões de território. Inúmeros maremotos ameaçavam a permanência do seu povo naquele lugar e a solução encontrada pelo líder foi se desvincular do Santuário e partir à procura de novas terras para habitar. Após atravessarem o Mar do Leste, ancoraram na costa de uma imensa floresta de clima quente e úmido em que viviam apenas animais e insetos. O povo de Häshmiel logo se estabeleceu ali, construindo suas casas e vivendo livremente com os frutos que a selva oferecia.



            
       Percebendo que os elfos conseguiam sobreviver tão longe do Santuário, Häshmiel denominou a nova civilização de pelasgos, que em Acaryist, a língua dos elfos, significa “filho que cresce sem os pais”. A Floresta dos Pelasgos desenvolveu-se enquanto nação e prosperou por um bom tempo de forma autônoma e isolada das demais civilizações. Mas tudo mudou quando um grupo nômade humano atravessou suas fronteiras a oeste, vindos dos Sertões do Limite, e se estabeleceu às margens do principal rio que cruzava a mata fechada. Quando os elfos se deram conta, o assentamento humano se tornara cidadela e já estava em pleno vigor.
            Nenhuma das duas raças sabia da existência da outra até o dia em que, numa caçada atrás de um porco do mato, os humanos adentraram a mata fechada e perceberam que não estavam sozinhos. Depararam-se com a civilização élfica que dominava todo o litoral, desde as Montanhas Congeladas até as colinas do sul. Os caçadores estranharam aqueles modos inusitados, as comidas sem carne ou sangue, os rituais em adoração à natureza. O povo de Häshmiel tinha o costume de viver pelado, saltitando entre os galhos das árvores como macacos, sem vergonha de cobrir o corpo ou medo de machucar os pés no chão da floresta. Outros vestiam roupas leves e se valiam de arcos e flechas envenenadas que disparavam silenciosamente. As pernas compridas facilitavam o movimento sem barulho pelas folhas secas no solo, as orelhas pontiagudas e avantajadas davam-lhes a audição de animais selvagens e os olhos esverdeados enxergavam até mesmo no escuro.



 Como já era de se esperar, nenhum dos dois povos aceitou conviver pacificamente, já que os humanos destruíam e consumiam os recursos da natureza, enquanto os elfos preservavam e adoravam. Häshmiel, que evitava os conflitos, foi pessoalmente até a fortaleza dos humanos e lá se encontrou com Krino, que era chamado de Rei da Floresta, e sentava-se num trono de carvalhos e ébanos centenários. O Rei convidou o elfo para um banquete de paz e, num ato provocativo, mandou seus empregados servirem apenas carnes vermelhas e gordas, cheias de sangue e vísceras expostas. Häshmiel, profundamente ofendido, declarou guerra a Krino e seu povo.
            Os humanos contavam com o fogo dos canhões e catapultas inflamadas. Os elfos, por outro lado, apostavam nas lanças e flechas com veneno de sapos. O enfrentamento entre as duas raças criou uma guerra que durou quinze meses e deu a vitória a Krino após a decapitação de Häshmiel. A floresta fora incendiada durante as batalhas e muitos animais morreram, o que permitia o avanço dos humanos e encurralava os elfos contra o mar. Com a morte do líder, não demorou muito para que os pelasgos se dispersassem e fugissem de volta ao Santuário, dando o total controle da região a Krino. Há relatos de algumas comunidades que ainda resistiram por vários anos, mas foram massacradas com o avanço das tropas. Hoje, o que se tem são apenas ruínas e lembranças de um povo destruído.




            Os elfos foram acolhidos de volta aos prantos pelos seus irmãos do Santuário Dourado, que, desde então, criaram uma antipatia tão grande pelo povo da floresta que mal falam com seus descendentes. O reconhecimento das terras da floresta não é feito pelos elfos. O nome do país permaneceu igual, mesmo com a vitória dos humanos, e a Cidade de Krino se tornou sua capital.
            Centenas de anos mais tarde, a Cidade de Krino permitiu a entrada da Prata da Lua pela sua costa e foi a responsável pela morte de milhares de inocentes pelos fanáticos de Anfriti. A punição dada depois do fim da guerra foi a construção de duas estátuas magníficas dos reis mais poderosos do continente em suas terras, Ferrie III e Neso I. Os elfos, porém, não concordaram com os termos e exigiram uma sentença mais rígida. Foi recusada pela reunião da Aliança dos Oprimidos e a punição continuou sendo a construção dos monumentos.
          O povo do Santuário Dourado não guarda rancor em seu coração, mas a mágoa é impossível de controlar. Os descendentes de Krino ainda têm as mãos sujas de sangue e injustiça. Infelizmente, até hoje, nada se fez para corrigir o caso e a memória de Häshmiel permanece soterrada no massapê lodacento da Floresta dos Pelasgos.